14/10/970
CILADA,
PERDÃO E GRAÇA
P - No
ponto em estudo, há uma coisa que merece explicação: o fato de uma pecadora
conhecida entrar na sala do festim, na casa do fariseu. Que explicação nos
oferece, a respeito, o Espírito da Verdade?
R - A
pergunta é oportuna e podeis formular esta outra: - Como veio a Simão a ideia
de convidar Jesus para entrar na sua casa e sentar-se a sua mesa? Há que O
FARISEU QUERIA SONDAR O MESTRE PARA DESCOBRIR NELE O PONTO VULNERÁVEL. Só
se aproximando de Jesus podia esperar consegui-lo.
Mesmo a
introdução de Maria, naquela sala, era uma cilada. De outra forma ela não teria
podido entrar lá, do mesmo modo que, sem a vossa autorização, uma
"desclassificada" não entrará em vossas casas. Dirigindo a Simão as
palavras dos versículos 43 a 46, referentes aos devedores, o Mestre estabeleceu
uma comparação toda material, para ser compreendido por um homem
material.
Os
fariseus não só eram orgulhosos, como também avarentos e cúpidos. O exemplo que
Jesus figurou não podia, portanto, deixar de ser apreciado e compreendido por
um espírito dessa natureza. Sim, aquele a quem mais se perdoa será certamente,
o mais reconhecido. Todavia, o perdão não é concedido sem ser suplicado; e as
súplicas devem ser fervorosas e reiteradas, pois O SENHOR NÃO SALDA AS DÍVIDAS
DE QUEM SE MOSTRE PROPENSO A CONTRAIR OUTRAS. ELE O FAZ SOMENTE ÀQUELE QUE SEJA
CAPAZ, NO FUTURO, DE MANTER-SE SEM DESVIO NO CAMINHO RETO.
Jesus,
com o que disse ao fariseu (vs. 44 a 47), apontando para a mulher, aludia
respectivamente ao sentimento dele e dela: lendo o pensamento de Simão,
conhecia a razão do "acolhimento" que este lhe dispensara. Falou,
então, à mulher: "Teus pecados estão perdoados" (v. 48). A GRAÇA NÃO
É O QUE A IGREJA HUMANA FORJOU. No caso da pecadora, havia remorso sincero e
profundo. Seguir-se-ia a reparação, que não lhe seria duramente imposta,
como sucede quando se trata de culpados endurecidos, mas UMA REPARAÇÃO FEITA
COM ALEGRIA E FELICIDADE, visando a alcançar o progresso, que deixara de
realizar, e entrar de novo em graça perante o Amor do Pai.
Disse,
ainda, Jesus: "Vai-te em paz; tua fé te salvou." A FÉ QUE ELA TIVERA
NO CRISTO LHE ABRIRIA OS OLHOS PARA O SEU MAU PROCEDER. A comparação entre a
vida sem mácula do Mestre e os excessos inumeráveis da sua própria vida de
pecadora foi o que a impressionou e impeliu a vir suplicar o perdão de suas
faltas, AOS PÉS DAQUELE QUE ELA CONSIDERAVA O ENVIADO CELESTE.
Nas suas
interpretações, os homens se equivocaram completamente quanto ao sentido destas
palavras de Jesus ao fariseu Simão: "Eu te declaro que muitos pecados lhe
são perdoados porque muito amou". Dizendo de Maria que muito lhe era
perdoado por haver amado muito, o Mestre não entrava em nenhuma das
considerações a quem lhe deram motivo, humanas interpretações. O AMOR QUE ELE
FALAVA ERA O AMOR CONSIDERADO DO PONTO DE VISTA DA CARIDADE.
Embora
mulher de vida dissoluta, Maria tinha um coração sensível às misérias de seus
semelhantes. De natureza fraca e impressionável, sua existência depravada era
mesma devida AO EXCESSO DO SEU AMOR À FAMÍLIA, COM A QUAL REPARTIA, EM LARGA
ESCALA, O PRODUTO DO SEU VERGONHOSO COMÉRCIO. Grande era a sua caridade para
com outros: jamais um infortúnio apelara em vão para a sua piedade. Sua própria
queda foi um ATO DE DEVOTAMENTO.
Aí tendes
o que não vos tinham dito; aí tendes, ainda, o que será encarado como estímulo
ao vício sob o pretexto de devotamento a pais pobres; aí tendes, todavia, a
fonte de tantos vícios que repelis com horror quando muitas vezes, um conselho
e um socorro fariam o que fizeram as santas palavras do Mestre. Espírito fraco,
Maria quisera lutar contra a sua fraqueza; quisera, sim, o combate
excessivamente rude. Sucumbiu, a princípio, mas se levantou mais forte e mais
valorosa. NÃO AOS OLHOS DOS HOMENS, QUE NADA PERDOAM, TENDO ELES TANTA
NECESSIDADE DE PERDÃO, MAS AOS OLHOS DAQUELE QUE SONDA OS CORAÇÕES E AS
ENTRANHAS, E PARA QUEM O PENSAMENTO CULPOSO E OCULTO EQUIVALE AO ATO CONSUMADO!