terça-feira, 30 de dezembro de 2014

12/04/1970
A GENEALOGIA E O VÉU DA LETRA

P - A LBV está liquidando os "mistérios" que impediam a aceitação da Bíblia pelo povo. Na verdade, a Bíblia está certa: errados estão os que a interpretam ao pé da letra. Poderia o Espírito da Verdade falar-nos mais, acerca da genealogia humana de Jesus?

R - Como sabeis, enquanto durasse a missão terrena do Mestre, Maria tinha de ser considerada sua mãe e José seu pai, de modo que, dada a descendência deste, Jesus tinha de ser considerado filho de David. O homem, para compreender, precisava que lhe pusessem sob a vista um ponto de partida, de onde lhe fosse possível seguir em linha reta. Aquelas coisas eram ditas aos hebreus, que estavam sujeitos à Lei de Moisés e se governavam pelas tradições, vindas de muitos séculos atrás, e cuja origem se perde na noite dos tempos. Portanto, era forçoso que, para lhes guiar as inteligências, o caminho seguido fosse o que eles tinham o hábito de trilhar.

Efetivamente, qual o tronco a eles indicado, na genealogia atribuída a Jesus?

Adão, o primeiro ente material saído das mãos do Criador. Ora, já não podeis ignorar - porque os tempos caminharam, as inteligências se desenvolveram e se operou o progresso das ciências - que A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM NUM PARAÍSO, JARDIM DE DELÍCIAS, DENTRO DO QUAL SE ENCONTRAVAM A ÁRVORE DA VIDA E A ÁRVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL, É UMA FIGURA ORIUNDA DA NECESSIDADE DE SE APROPRIAREM OS ENSINAMENTOS À HUMANIDADE PRIMITIVA. Poucos são, ainda hoje, os que estão aptos a entender uma existência que não teve princípio nem terá fim!

Figuradamente, a genealogia de Jesus vai remontar a Adão, como remonta ao próprio Deus a criação do corpo formado de limo. Naquele época, entretanto, tão formal desmentido à letra da "Gênese" de Moisés revoltaria as multidões, inquietando a todos e retardando a marcha da obra de regeneração. 

De acordo com essa genealogia humana, quer segundo Mateus, quer segundo Lucas, qual a descendência atribuída a Jesus?

A de filho de David por José, que é seu pai aos olhos dos homens, e que, por sua vez, também aparece como descendente do rei profeta. Foi com o objetivo de ligar o "nascimento" de Jesus a David que se estabeleceu a genealogia, tanto segundo Mateus, como segundo Lucas. Ela é o fruto das pesquisas realizadas com esse fim. Mas já se fizera "a noite dos tempos":  muitos nomes foram introduzidos em lugar de outros que eram ignorados e se julgava deverem  existir. Pouco importam, porém, os nomes: as relações genealógicas existem pela filiação das famílias.

Ninguém se embarace com as DIFERENÇAS QUE APRESENTAM AS DUAS GENEALOGIAS, de Mateus e de Lucas. São puerilidades, pois o tronco era o mesmo. De confundirem filhos de dois irmãos nasceu a confusão dos nomes que, algumas vezes, pertenceram aos mesmos indivíduos. Também vos acontece adotar muitos nomes, em consequência de adições ou mudanças causadas pela vaidade. É provável (e natural) que, no futuro, aqueles que vos pesquisarem a vida, e os atos, tomem um desses nomes por outro, sem que o biografado deixe de ser o mesmo. Assim, com relação aos nomes, um dos Evangelistas seguiu um dos ramos, e o outro seguiu o ramo diverso. Ambos os ramos, porém, pertenciam ao mesmo tronco. NÃO HÁ OBRAS HUMANAS IMPECÁVEIS. O essencial, para os hebreus, era a origem: as duas genealogias são acordes em apresentar José como descendente de David.

Quanto à Virgem Maria, não vos admireis de que seu nome não figure na genealogia atribuída a Jesus: entre os israelitas, as filhas não eram tidas em conta, como não os são, entre as vossas "raças-nobres" para a perpetuação do nome. A Virgem pertencia à tribo; era quanto bastava que se soubesse. Não vos detenhais, também, nas controvérsias que surgiram desde os primeiros tempos do Evangelho: continuaram, e ainda hoje continuam, a propósito das suas genealogias (Mateus e Lucas), por motivos de diferenças, omissões e contradições de que as acusam. O homem não quer compreender que, seja qual for o objetivo espiritual que se tenha em vista atingir,  necessário é se humanizarem os meios postos ao seu alcance para esse fim. A CONSEQUÊNCIA É QUE OS MEIOS SE TORNAM IMPERFEITOS. 

Era a essas controvérsias, sobre a genealogia humana de Jesus, já então suscitadas, que aludia o Apóstolo Paulo (I a Timóteo, capítulo I, versículos 4-5), dizendo: "Ninguém se entretenha com fábulas e genealogias sem fim, que mais servem para gerar discórdias do que para fundar, sobre a fé, o edifício de Deus". Sim, amados irmãos, não vos prendais nos pormenores pueris de uma genealogia humana, que só teve razão de ser do ponto de vista dos judeus e de suas tradições, como meio de preparar a missão terrena de Jesus. Isso vos faria perder um tempo precioso. Deixai que os "atilados" reúnam todas as suas forças para levantar, ou deslocar, alguns dos pedregulhos com que topam. Não esqueçais que tendes de erguer uma montanha, a fim de abrirdes passagem à estrada reta e unida que devereis traçar. 

Repetimos: só do ponto de vista dos hebreus e de suas tradições, como meio de preparar o desempenho da missão terrena de Jesus, aquela genealogia teve a sua razão de ser. Efetivamente, confrontai com as palavras do Anjo à Virgem Maria (Lucas, I, versículo 32) e com as palavras do cântico de Zacarias (Lucas, I, versículos 68-70) o que disse Jesus aos fariseus: "Que pensai vós do Cristo? De quem ele é filho? - De David, responderam. - Como é então, retrucou-lhes Jesus, que inspirado pelo Espírito Santo, nos Salmos, David lhe chama Senhor, por estas palavras: "O Senhor disse a meu Senhor: - Senta-te à minha direita, até que eu tenha reduzido teus inimigos a te servirem de escabelo". Ora, se David lhe chama seu Senhor, como pode Ele ser filho de David?" (Evangelho segundo Mateus, capítulo XXII, versículos 41-43 - Lucas, capítulo XX, versículos 41-44).

É evidente que Jesus, desse modo, durante a sua missão na Terra, preparou a Humanidade, para reconhecer que aquela genealogia  lhe era estranha e inaplicável, e para receber, mais tarde, no tempo determinado por Deus, a revelação da sua origem e da sua natureza extra-humana, como o Cristo esperado desde Moisés.

 

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