05/07/1970
CRISTIANISMO E RIQUEZA
P - Tomando ao pé da letra a
parábola do Rico e Lázaro, dizem alguns comentadores: "Todo o pensamento
desta parábola está no versículo 15 do capítulo XVI: "o que é elevado aos
olhos dos homens é abominação aos olhos de Deus". Com
efeito, o rico tem o inferno por sepulcro (versículo 22); Deus o abomina
unicamente por ser ele grande perante o mundo, e o pobre é amado por Deus,
"está no seio de Abraão", unicamente por ser pequeno perante o mundo.
Não se diz ali que o rico fez mau uso da sua riqueza, nem que o pobre fez bom
uso da sua pobreza, mas que o rico recebeu os seus bens em vida e que ao pobre
Lázaro somente males couberam. É o que, implicitamente, se nos depara nestas
palavras do Evangelho segundo Lucas, no começo do Sermão do Monte: "Ai de vós, ricos, que
tendes a vossa consolação neste mundo! Ai de vós, que estais saciados, porque
tereis fome! Ai de vós, que rides agora, porque tereis de gemer e chorar!" (VI: 24-25). Este
sentimento de animosidade contra a riqueza, essa reprovação do rico se
desenvolveu no Cristianismo, ao mesmo tempo sempre que se alargou sua luta
contra o mundo, mas o pensamento mesmo do seu fundador é diferente: "Buscai, primeiro, o
Reino de Deus e sua Justiça e todas as coisas vos serão dadas de acréscimo" (Mateus, VI: 33). Qual, sobre
isso, a opinião do Espírito da Verdade?
R - Os que usam desta linguagem,
tendo razão do ponto de vista das falsas interpretações dadas às palavras do
Cristo, se enganam redondamente QUANTO AO SENTIDO E AO OBJETIVO, SEGUNDO O
ESPÍRITO, SEGUNDO O PENSAMENTO DE JESUS INTENCIONALMENTE VELADO PELA LETRA,
QUER DA PARÁBOLA, QUER DOS TEXTOS QUE CITAM, e que já vos explicamos em
Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento.
A falsa interpretação das
palavras do Mestre produziu bons frutos a seu tempo. A violência mesma dessa
interpretação concorreu para que os prevaricadores, os avaros e os egoístas se
despojassem dos seus bens, com o propósito de evitarem o castigo e darem
exemplos de desprendimento, que mais tarde seriam bem mais compreendidos.
Quando se tem de abater uma
árvore secular, não é de um canivete que se lança mão, mas de um machado movido
por vigoroso pulso. Quando se tem de destruir paixões más, profundamente
enraizadas, não é com palavras brandas e sem alcance que se há de consegui-lo:
SERÁ PRECISO VIBRAR GOLPES VIOLENTOS QUE REPERCUTAM NO CORAÇÃO. As
palavras de Jesus eram sempre medidas para o efeito de produzirem frutos
imediatos e prepararem as colheitas vindouras. Mesmo o que esses comentadores
consideram DESVIOS, RESULTANTES DE FALSAS INTERPRETAÇÕES, não foi mais que o
profundo trabalho da charrua em terras duras, forçando-as a produzir, a fim de
que - ao cabo de certo tempo - a cultura as possa amolecer, desterroar e tornar
férteis em frutos mais doces e mais saborosos.
Reportem-se (os que formulam
aquelas objeções) à explicação, conforme ao espírito, que vos demos da
parábola. Atendam que A LETRA MATA, O ESPÍRITO/ VIVIFICA; a que as palavras de
Jesus são ESPÍRITO E VIDA, e que se encadeiam formando um conjunto harmonioso.
Só assim, dentro do equilíbrio das Leis Eternas e Imutáveis, compreenderão o
seu sentido e o seu alcance.
P - Diz Abraão: "Grande abismo existe entre nós
e vós; de modo que os que querem passar daqui para lá não o podem, como também
não se pode passar de lá para cá" (versículo
26, capítulo XVI, do Evangelho de Jesus segundo Lucas). Qual o sentido real,
segundo o espírito?
R - Alusão clara à
impossibilidade que há, para o Espírito (por mais elevado que seja), de deter o
curso da Justiça Divina. Deus é bom, mas também é JUSTO: a cada um de acordo
com as suas obras.
P - As palavras desse versículo
26, veladas pela imagem e pela letra, significarão que os Bons Espíritos não se
podem acercar dos Espíritos culpados, enquanto não há, da parte destes,
arrependimento? E reciprocamente, que os Espíritos culpados não se podem elevar
às regiões em que se acham os Bons Espíritos e aproximar-se deles?
R - Não. Os Espíritos Superiores
não entram em contato com os Espíritos Inferiores que sofrem punição. Mas os
Bons Espíritos, de menor elevação, os cercam, conservando-se, entretanto,
invisíveis. E, quanto aos Espíritos Inferiores, esses não podem elevar-se NUNCA
às regiões ocupadas pelos Bons Espíritos, SEM QUE UM ARREPENDIMENTO SINCERO OS
PONHA EM CONDIÇÕES DE EXPERIMENTAREM A INFLUÊNCIA DIRETA DE SEUS PROTETORES E
SEM QUE LHES SEJA PERMITIDO ACOMPANHAR OS BONS ESPÍRITOS, COM O PROPÓSITO DE SE
INSTRUÍREM E PROGREDIREM, NO CAMINHO DO BEM E DA VERDADE.
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