segunda-feira, 9 de março de 2015

05/07/1970
CRISTIANISMO E RIQUEZA

P - Tomando ao pé da letra a parábola do Rico e Lázaro, dizem alguns comentadores: "Todo o pensamento desta parábola está no versículo 15 do capítulo XVI: "o que é elevado aos olhos dos homens é abominação aos olhos de Deus". Com efeito, o rico tem o inferno por sepulcro (versículo 22); Deus o abomina unicamente por ser ele grande perante o mundo, e o pobre é amado por Deus, "está no seio de Abraão", unicamente por ser pequeno perante o mundo. Não se diz ali que o rico fez mau uso da sua riqueza, nem que o pobre fez bom uso da sua pobreza, mas que o rico recebeu os seus bens em vida e que ao pobre Lázaro somente males couberam. É o que, implicitamente, se nos depara nestas palavras do Evangelho segundo Lucas, no começo do Sermão do Monte: "Ai de vós, ricos, que tendes a vossa consolação neste mundo! Ai de vós, que estais saciados, porque tereis fome! Ai de vós, que rides agora, porque tereis de gemer e chorar!" (VI: 24-25). Este sentimento de animosidade contra a riqueza, essa reprovação do rico se desenvolveu no Cristianismo, ao mesmo tempo sempre que se alargou sua luta contra o mundo, mas o pensamento mesmo do seu fundador é diferente: "Buscai, primeiro, o Reino de Deus e sua Justiça e todas as coisas vos serão dadas de acréscimo" (Mateus, VI: 33). Qual, sobre isso, a opinião do Espírito da Verdade?

R - Os que usam desta linguagem, tendo razão do ponto de vista das falsas interpretações dadas às palavras do Cristo, se enganam redondamente QUANTO AO SENTIDO E AO OBJETIVO, SEGUNDO O ESPÍRITO, SEGUNDO O PENSAMENTO DE JESUS INTENCIONALMENTE VELADO PELA LETRA, QUER DA PARÁBOLA, QUER DOS TEXTOS QUE CITAM, e que já vos explicamos em Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento.

A falsa interpretação das palavras do Mestre produziu bons frutos a seu tempo. A violência mesma dessa interpretação concorreu para que os prevaricadores, os avaros e os egoístas se despojassem dos seus bens, com o propósito de evitarem o castigo e darem exemplos de desprendimento, que mais tarde seriam bem mais compreendidos.

Quando se tem de abater uma árvore secular, não é de um canivete que se lança mão, mas de um machado movido por vigoroso pulso. Quando se tem de destruir paixões más, profundamente enraizadas, não é com palavras brandas e sem alcance que se há de consegui-lo: SERÁ PRECISO VIBRAR GOLPES VIOLENTOS QUE REPERCUTAM NO CORAÇÃO. As  palavras de Jesus eram sempre medidas para o efeito de produzirem frutos imediatos e prepararem as colheitas vindouras. Mesmo o que esses comentadores consideram DESVIOS, RESULTANTES DE FALSAS INTERPRETAÇÕES, não foi mais que o profundo trabalho da charrua em terras duras, forçando-as a produzir, a fim de que - ao cabo de certo tempo - a cultura as possa amolecer, desterroar e tornar férteis em frutos mais doces e mais saborosos.

Reportem-se (os que formulam aquelas objeções) à explicação, conforme ao espírito, que vos demos da parábola. Atendam que A LETRA MATA, O ESPÍRITO/ VIVIFICA; a que as palavras de Jesus são ESPÍRITO E VIDA, e que se encadeiam formando um conjunto harmonioso. Só assim, dentro do equilíbrio das Leis Eternas e Imutáveis, compreenderão o seu sentido e o seu alcance.

P - Diz Abraão: "Grande abismo existe entre nós e vós; de modo que os que querem passar daqui para lá não o podem, como também não se pode passar de lá para cá" (versículo 26, capítulo XVI, do Evangelho de Jesus segundo Lucas). Qual o sentido real, segundo o espírito?

R - Alusão clara à impossibilidade que há, para o Espírito (por mais elevado que seja), de deter o curso da Justiça Divina. Deus é bom, mas também é JUSTO: a cada um de acordo com as suas obras.

P - As palavras desse versículo 26, veladas pela imagem e pela letra, significarão que os Bons Espíritos não se podem acercar dos Espíritos culpados, enquanto não há, da parte destes, arrependimento? E reciprocamente, que os Espíritos culpados não se podem elevar às regiões em que se acham os Bons Espíritos e aproximar-se deles?


R - Não. Os Espíritos Superiores não entram em contato com os Espíritos Inferiores que sofrem punição. Mas os Bons Espíritos, de menor elevação, os cercam, conservando-se, entretanto, invisíveis. E, quanto aos Espíritos Inferiores, esses não podem elevar-se NUNCA às regiões ocupadas pelos Bons Espíritos, SEM QUE UM ARREPENDIMENTO SINCERO OS PONHA EM CONDIÇÕES DE EXPERIMENTAREM A INFLUÊNCIA DIRETA DE SEUS PROTETORES E SEM QUE LHES SEJA PERMITIDO ACOMPANHAR OS BONS ESPÍRITOS, COM O PROPÓSITO DE SE INSTRUÍREM E PROGREDIREM, NO CAMINHO DO BEM E DA VERDADE.

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