domingo, 11 de janeiro de 2015

28/04/1970
DEUS E A VIDA UNIVERSAL - XII

P - Disse o Espírito da Verdade que "a previdência do Senhor vela, sempre, pela conservação de todos". Poderia aprofundar o ensinamento e falar da paridade do desenvolvimento em todos os reinos da Natureza?

R - É que as espécies, incapazes de se defenderem, não são atacadas de modo positivo. Têm seus inimigos, mas entre seres tão fracos quanto elas mesmas, nunca entre aqueles que a destruíram completamente, achando-as sem defesa ou meios de fugir. Cada espécie busca a alimentação que lhe é apropriada, não procurando jamais a que seja estranha ao seus apetites. 

O homem, no estado de encarnação primitiva, ou rudimentar, não tem que temer mais inimigos do que os tem a esponja, que só é vítima dos insetos que dela se  nutrem, quando chega o termo da sua duração natural. Nem a carnívoros, nem a herbívoros, nem a nenhuma espécies de peixes ou de pássaros, serve ela de alimento. Chegado, no seu desenvolvimento, ao período em que os carnívoros o atacam para devorá-lo, o homem já não se acha mais sem defesa e sem meios de fugir. Dizemos os carnívoros e não os herbívoros porque o caçador não persegue a caça que não tenha atrativo para ele. 

Também afirmamos que o homem, no estado de encarnação primitiva, não é mais do que massa, quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja, ou antes, desliza, tendo os membros, por assim dizer em estado latente. Ainda mais: "As gerações se sucedem, desenvolvendo-se. E as formas se vão alongando, tornando-se aptas a prover as necessidades que se multiplicam". A matéria está sujeita a um desenvolvimento regular. Os Espíritos, quando se elevam, transpõem o grau desse desenvolvimento, sem neles tocarem: há sempre categorias de Espíritos em correlação com os graus das encarnações. Desde o grau de encarnação primitiva até à forma humana, não há outra coisa senão um tipo único em germe, a se desenvolver. Tipo único, mas que se modifica, à medida que o seu desenvolvimento se opera, de conformidade com os meios em que se vai encontrando. 

E daí podeis tirar outras conclusões, relativamente à elaboração do Espírito nos diversos reinos da Natureza. Efetivamente, o que se dá com a origem do tipo humano, que provém do limo diluído e fecundado, se verifica também com o princípio das primeiras plantas e dos primeiros animais. São, em começo, simples vegetações microscópicas, que se desenvolvem, crescem e se estendem por sobre o solo, e produzem sementes que, transportadas a diversos pontos, sofrem a influência da terra que as recebe, das águas que as regam, dos calores que a fecundam e, enfim, dos fluidos que a desenvolvem. Surgem depois, os tipos animais, que passam pelas mesmas transformações, determinados pelas mesmas causas. 

Agora, é preciso compreender como e por que chega o homem a ter a direção e a supremacia no planeta, não obstante ser o desenvolvimento material das espécies animais, no momento da encarnação humana primitiva, superior ao do Espírito humanizado, sob o ponto de vista do invólucro. O homem, nessas condições, não é um atrasado, mas um retardatário: o que há, em tal caso, é uma retrogradação física. Nele, a inteligência tem de despertar, ao passo que nos animais tem de se desenvolver. Fique bem claro o seguinte: ao fundar-se um novo planeta, o princípio de inteligência, o princípio espiritual que, em estado latente, ele encerra, tem de se elaborar, desenvolver, individualizar e adquirir arbítrio. O princípio espiritual, portanto, tem de passar por uma série inumerável de transformações, para chegar a esse ponto.

O Espírito que encarna, ao contrário, volta à matéria para lhe sofrer a opressão, para se habituar a dominá-la, para aprender a se dominar, podendo o princípio inteligente (que, então, já percorreu uma certa categoria de estágios) ascender rapidamente, se o quiser, da ínfima condição em que caiu até às esferas elevadas que lhe compete atingir. Não se trata mais, aqui, de um progresso lento, insensível, mediante o qual, por assim dizer, se cria o ser espiritual: trata-se de realizar um trabalho raciocinado, cujos primeiros princípios já foram executados e se cuida de aplicar. 

Façamos uma comparação, para maior clareza: o Espírito que se prepara nos diversos reinos inferiores (mineral, vegetal, animal), é como a criança da qual o germe, fecundado no seio materno, se desenvolve, nasce, se educa e chega à adolescência. Nesse ponto, contrai uma enfermidade terrível, por efeito da qual, na convalescência, não lembra sequer de uma letra dos seus primeiros estudos. Não sabe mais equilibrar nas pernas o corpo cambaleante, nem ir de um lugar a outro. Balbucia sons inarticulados e ininteligíveis. Estão mortos seus escritores prediletos, seus talentos, suas recordações. Mas, pouco a pouco, a saúde lhe volta. Solicita, a mãe extremosa que lhe guia os passos, regulariza o seu falar, mostra nos seus livros as palavras que ele esqueceu, e por fim o conduz à trilha das ciências que estudou. A inteligência se lhe desperta prontamente; de tudo vai se lembrando e tudo vai reconhecendo. JULGA APRENDER, QUANDO APENAS GRADUALMENTE RECORDA. E tanto mais rápido é o progresso quanto mais a saúde se avigora.

O mesmo acontece com o Espírito que faliu: seus progressos espirituais dependem dos cuidados que dispense à sua saúde moral. Esses cuidados lhe permitem avançar, rapidamente, no campo da reminiscência dos progressos feitos no passado, reminiscência que se toma por um estudo novo, enquanto não galga a altura de onde o passado pode, sem inconveniente, desenrolar-se aos seus olhos. Não lhe é dado fazer progressos novos (e estes, sim, serão realmente frutos de novos estudos) senão depois de atingir o ponto a que já chegara, quando caiu nas trevas da encarnação humana.
 

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