A VIDA DE JESUS – IV
P – Concordamos com a
diretriz fundamental do CEU da LBV: não se aceitam ensinamentos de homens, por
mais iluminados que sejam ou se julguem. Do contrário, seria impossível
unificar as Quatro Revelações de Jesus! Como o Espírito da Verdade explica as
ausências, os jejuns, a aparição do menino Jesus no templo e o espanto de seus
pais?
R – Para os hebreus, a abstinência e o jejum
completo, durante um ou muitos dias, nada tinham de espantoso. Os mais zelosos
praticavam essa abstinência e esse jejum completo, às vezes, por três dias.
Ora, pesquise cada um de vós as suas reminiscências e achará, dentro ou fora da
família, exemplo do que pode fazer a criatura humana ainda em vossos dias, nos
quais a alimentação complicada e a frouxidão dos costumes amesquinharam as
faculdades vitais. Por que havia de ser isso impossível a homens vigorosos,
sóbrios, rijos, desde tenra idade habituados à abstinência e ao jejum?
Lembrai-vos não só do costume antigos dos hebreus, mas também, dos árabes.
Tendo em vista a origem espiritual de Jesus, a natureza fluídica do seu corpo,
os fatos e circunstâncias relativos ao que a linguagem humana designa por
“infância do filho de José e Maria” – vamos explicar o aparecimento do menino
entre os doutores, no templo, durante os três dias que passou em Jerusalém.
Jesus foi apresentado, no templo, pelo irmão de José e pelo próprio José, como
um dos descendentes de David, segundo a linha da sua parentela e a descendência
da sua tribo. Decorridos os dias da festa da Páscoa, José e Maria regressaram,
mas Jesus ficou em Jerusalém, sem que eles o percebessem, supondo-o na multidão
com alguns dos companheiros de viagem. Caminharam um dia procurando-o entre os
parentes e conhecidos; não o encontrando, voltaram a Jerusalém. Será lícito
tachar de incrível ou de “inverossimilhança moral” o fato de haverem Maria e
José (que chegaram à cidade quando regurgitava de estrangeiros) perdido de
vista Jesus, que aos seus olhos era um menino de doze anos, e o de terem
(quando já de regresso) caminhado um dia inteiro, sem perceberem que o menino
não ia com eles? Só mesmo a temeridade da ignorância se pode atribuir
semelhante pecha de “inverossimilhança moral”. Jesus, já o dissemos, se
afizera, desde muitos anos, a uma existência isenta dos vossos hábitos e
relações. Acostumados à sua vida contemplativa (e um tanto selvagem,
relativamente aos homens), seus pais não exerciam sobre ele a vigilância que
exerceis sobre os vossos filhos. Qual a causa da solicitude dos pais para com
os filhos? A fraqueza, a inconseqüência, a ignorância desses pequenos seres que
lhe foram confiados. Mas, se admitirdes que reconheçam nos filhos – juízo,
razão, faculdades incomuns, desenvolvimento moral e espiritual, que os ponham a
salvo dos perigos da idade infantil, achareis natural que os pais se abstenham
de uma vigilância inútil e, além disso, fatigante, para as crianças que são
objeto dela. José e Maria pensaram, como dissemos, que Jesus estivesse com
outras pessoas (com algum de seus parentes ou conhecidos) e, como fossem
inúmeros os viajantes e caminhassem através de campos (porque, de certo, não
vos vem à idéia que trilhassem uma estrada larga, traçada e aberta como as
vossas), não tomaram o incômodo de levar suas pesquisas além dos limites que
alcançavam com a vista. Só depois de terem perguntado a uns e a outros por
Jesus, certificando-se de que ninguém o vira, é que resolveram procura-lo. Ao
fim do dia, eles ganharam a certeza de que pessoa alguma o tinha visto. Durante
a caminhada, pelo dia todo, nenhuma parada havia feito para se alimentarem.
Para a maioria dos viajantes, e nesse número estavam Maria e José, os frutos
das sebes das árvores eram os alimentos principais, no curso da viagem. Tendo
voltado a Jerusalém, encontraram Jesus no templo, sentado entre os doutores,
ouvindo-os e interrogando-os. Ao dar com ele, Maria não lhe perguntou: – “Meus
filho, como viveste sozinho numa cidade onde és estrangeiro e desconhecido? –
Quem te recebeu à sua mesa, para te alimentar? Onde te abrigaste, para refazer
tuas forças pelo repouso e pelo sono?” Nada disso lhe perguntou. Manifestou apenas
a inquietação que lhe causara, assim como a José, a ausência do filho que, sem
o saberem (é claro), se deixara ficar em Jerusalém, quando – na companhia de
ambos – devia regressar a Nazaré. Se Maria não perguntou a Jesus o que dele
fora feito, naqueles três dias, não foi por saber que “seu filho” não
era formado de matéria igual a dela, mas porque sabia que sua existência se
distanciava muito dos hábitos e necessidades da infância. A experiência própria
lhe demonstrara isso: ela o tinha visto praticar a abstinência ou jejum completo
por um ou muitos dias, quando permanecia no seio da família, ausentar-se às
vezes, também, por um ou muitos dias, sem que nessa alternativa (de estada em
casa ou de ausência) houvesse qualquer coisa de regular e periódico
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