A GENEALOGIA E
O VÉU DA LETRA
P – A LBV está liquidando os
“mistérios” que impediam a aceitação da Bíblia pelo povo. Na verdade, a Bíblia
está certa: errados estão os que a interpretam ao pé da letra. Poderia o
Espírito da Verdade falar-nos mais, acerca da genealogia humana de
Jesus?
R – Como sabeis, enquanto
durasse a missão terrena do Mestre, Maria tinha de ser considerada sua mãe e
José seu pai, De modo que, dada a descendência deste, Jesus tinha de ser
considerado filho de David. O homem, para compreender, precisava que lhe
pusessem sob a vista um ponto de partida, de onde lhe fosse possível seguir em
linha reta. Aquelas coisas eram ditas aos hebreus, que estavam sujeitos à Lei
de Moisés e se governavam pelas tradições, vindas de muitos séculos atrás, e
cuja a origem se perde na noite dos tempos. Portanto, era forçoso que, para
lhes guiar as inteligências, o caminho seguido fosse o que eles tinham o hábito
de trilhar. Efetivamente, qual o tronco a eles indicado, na genealogia
atribuída a Jesus? Adão, o primeiro ente material saído das mãos do Criador.
Ora, já não podeis ignorar – porque os tempos caminharam, as inteligências se
desenvolveram e se operou o progresso das ciências – que A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO
HOMEM NUM PARAÍSO, JARDIM DE DELÍCIAS, DENTRO DO QUAL SE ENCONTRAVAM A ÁRVORE
DA VIDA E A ÁRVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL, É UMA FIGURA ORIUNDA DA
NECESSIDADE DE SE APROPRIAREM OS ENSINAMENTOS À HUMANIDADE PRIMITIVA. Poucos
são, ainda hoje, os que estão aptos a entender uma existência que não teve
princípio nem terá fim! Figuradamente, a genealogia de Jesus vai
remontar a Adão, como remonta ao próprio Deus a criação do corpo formado de
limo. Naquela época, entretanto, tão formal desmentido à letra da “Gênese” de
Moisés revoltaria as multidões, inquietando a todos e retardando a marcha da
obra de regeneração. De acordo com essa genealogia humana, quer segundo Mateus,
quer segundo Lucas, qual a descendência atribuída a Jesus? A de filho de David
por José, que é seu pai aos olhos dos homens, e que, por sua vez, também
aparece como descendente do rei profeta. Foi com o objetivo de ligar o
“nascimento” de Jesus a David que se estabeleceu a genealogia, tanto segundo
Mateus, como segundo Lucas. Ela é o fruto das pesquisas realizadas com esse
fim. Mas já se fizera “a noite dos tempos”: muitos nomes foram introduzidos em
lugar de outros que eram ignorados e se julgava deverem existir. Pouco
importam, porém, os nomes: as relações genealógicas existem pela filiação das
famílias. Ninguém se embarace com as DIFERENÇAS QUE APRESENTAM AS DUAS
GENEAOLOGIAS, de Mateus e de Lucas. São puerilidades, pois o tronco era o
mesmo. De confundirem filhos de dois irmãos nasceu a confusão dos nomes que,
algumas vezes, pertenceram aos mesmos indivíduos. Também vos acontece adotar
muitos nomes, em conseqüência de adições ou mudanças causadas pela vaidade. É
provável (e natural) que, no futuro, aqueles que vos pesquisarem a vida, e os
atos, tomem um desses nomes por outro, sem que o biografado deixe de ser o
mesmo. Assim, com relação aos nomes, um dos Evangelistas seguiu um dos ramos, e
o outro seguiu ramo diverso. Ambos os ramos, porém, pertenciam ao mesmo tronco.
NÃO HÁ OBRAS HUMANAS IMPECÁVEIS. O essencial, para os hebreus, era a
origem: as duas genealogias são acordes em apresentar José como descendente de
David. Quanto à Virgem Maria, não vos admireis de que seu nome não figure na
genealogia atribuída a Jesus: entre os israelitas, as filhas não eram tidas
em conta, como não o são, entre as vossas “raças-nobres” para a perpetuação
do nome. A Virgem pertencia à tribo; era quanto bastava que se soubesse. Não
vos detenhais, também, nas controvérsias que surgiram desde os primeiros tempos
do Evangelho: continuaram, e ainda hoje continuam, a propósito das duas
genealogias (Mateus e Lucas), por motivos de diferenças, omissões e
contradições de que as acusam. O homem não quer compreender que, seja qual for o
objetivo espiritual que se tenha em vista atingir, necessário é se
humanizarem os meios postos ao seu alcance para esse fim. A CONSEQÜÊNCIA É
QUE OS MEIOS SE TORNAM IMPERFEITOS. Era a essas controvérsias, sobre a
genealogia humana de Jesus, já então suscitadas, que aludia o Apóstolo Paulo (I
a Timóteo, cap. I, vs. 4-5), dizendo: “Ninguém se entretenha com fábulas e
genealogias sem fim, que mais servem para gerar discórdias do que para fundar,
sobre a fé, o edifício de Deus”. Sim, amados irmãos, não vos prendais nos
pormenores poeris de uma genealogia humana, que só teve razão de ser do ponto
de vista dos judeus e de suas tradições, como meio de preparar a missão terrena
de Jesus. Isso vos faria perder um tempo precisos. Deixai que os “atilados”
reúnam todas as suas forças para levantar, ou deslocar, alguns dos pedregulhos
com que topam. Não esqueçais que tendes de erguer uma montanha, a fim de
abrirdes passagem à estrada reta e unida que devereis traçar. Repetimos: só do
ponto de vista dos hebreus e de suas tradições, como meio de preparar o
desempenho da missão terrena de Jesus, aquela genealogia teve a sua razão de
ser. Efetivamente, confrontai com as palavras do Anjo à Virgem Maria (Lucas, I,
vs. 32) e com as palavras do cântico de Zacarias (Lucas, I, vs. 68-70) o que
disse Jesus aos fariseus: “Que pensais vós do Cristo? De quem é Ele filho? –
De David, responderam. – Como é então, retrucou-lhe Jesus, que inspirado pelo
Espírito Santo, nos Salmos, David lhe chama Senhor, por estas palavras: “O
Senhor disse a meu Senhor: – Senta-te à minha direita, até que eu tenha
reduzido teus inimigos a te servirem de escabelo”. Ora, se David lhe chama seu
Senhor, como pode Ele ser filho de David?” (Evangelho segundo Mateus, cap.
XXII, vs. 41-43 – Lucas, cap. XX, vs. 41-44). É evidente que Jesus, desse modo,
durante a sua missão na Terra, preparou a Humanidade para reconhecer que aquela
genealogia lhe era estranha e inaplicável, e para receber, mais tarde, no tempo
determinado por Deus, a revelação da sua origem e da sua natureza extra-humana,
como o Cristo esperado desde Moisés.
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