CRISTIANISMO E RIQUEZA
P – Tomando ao pé da
letra a parábola do Rico e Lázaro, dizem alguns comentadores: “Todo o
pensamento desta parábola está no versículo 15 da capítulo XVI: “o que é
elevado aos olhos dos homens é abominação aos olhos de Deus”. Com efeito, o
rico tem o inferno por sepulcro (versículo 22); Deus o abomina unicamente por
ser ele grande perante o mundo, e o pobre é amado por Deus, “está  no seio de Abraão”, unicamente por ser
pequeno perante o mundo. Não se diz ali que o rico fez mau uso da sua riqueza,
nem que o pobre fez bom uso da sua pobreza, mas que o rico recebeu os seus bens
em vida e que ao pobre Lázaro somente males couberam. É o que, implicitamente,
se nos depara nestas palavras do Evangelho segundo Lucas, no começo do Sermão
do Monte: “Ai de vós, ricos, que tendes a vossa consolação neste mundo! Ai de
vós, que estias saciados, porque tereis fome! Ai de vós, que rides agora,
porque tereis de gemer e chorar!” (VI: 24-25). Este sentimento de animosidade
contra a riqueza, essa reprovação do rico se desenvolveu no Cristianismo, ao
mesmo tempo sempre que se alargou sua luta contra o mundo, mas o pensamento
mesmo do seu fundador é diferente: “Buscai, primeiro, o Reino de Deus e sua
Justiça e todas as coisas vos serão dadas de acréscimo” (Mateus, VI: 33). Qual,
sobre isso, a opinião do Espírito da Verdade?
R – Os que usam
desta linguagem, tendo razão do ponto de vista das falsas interpretações dadas
às palavras do Cristo, se enganam redondamente QUANTO AO SENTIDO E AO
OBJETIVO, SEGUNDO O ESPÍRITO, SEGUNDO O PENSAMENTO DE JESUS INTENCIONALMENTE
VELADO PELA LETRA, QUER DA PARÁBOLA, QUER DOS TEXTOS QUE CITAM, e que já
vos explicamos em Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento. A falsa
interpretação das palavras do Mestre produziu bons frutos a seu tempo. A
violência mesma dessa interpretação concorreu para que os prevaricadores, os
avaros e os egoístas se despojassem dos seus bens, com o propósito de evitarem
o castigo e darem exemplos de desprendimento, que mais tarde seriam bem mais
compreendidos. Quando se tem de abater uma árvore secular, não é de um canivete
que se lança mão, mas de um machado movido por vigoroso pulso. Quando se tem de
destruir paixões más, profundamente enraizadas, não é com palavras brandas e
sem alcance que se há de consegui-lo: SERÁ PRECISO VIBRAR GOLPES VIOLENTOS
QUE REPERCUTAM NO CORAÇÃO. As palavras de Jesus eram sempre medidas para o
efeito de produzirem frutos imediatos e prepararem as colheitas vindouras.
Mesmo o que esses comentadores consideram DESVIOS, RESULTANTES DE FALSAS
INTERPRETAÇÕES, não foi mais que o profundo trabalho da charrua em terras
duras, forçando-as a produzir, a fim de que – ao cabo de certo tempo – a
cultura as possa amolecer, destorroar e tornar férteis em frutos mais doces e
mais saborosos. Reportem-se (os que formulam aquelas objeções) à explicação, conforme
ao espírito, que vos demos da parábola. Atendam a que A LETRA MATA, O
ESPÍRITO VIVIFICA; a que as palavras de Jesus são ESPÍRITO E VIDA, e que se
encadeiam formando um conjunto harmonioso. Só assim, dentro do equilíbrio
das Leis Eternas e Imutáveis, compreenderão o seu sentido e o seu alcance.
P – Diz Abraão:
“Grande abismo existe entre nós e vós; de modo que os que querem passar daqui
para lá não o podem, como também não se pode passar de lá para cá” (versículo
26, capítulo XVI, do Evangelho de Jesus segundo Lucas). Qual o seu sentido
real, segundo o espírito?
R – Alusão clara à
impossibilidade que há, para o Espírito (por mais elevado que seja), de deter o
curso da Justiça Divina. Deus é bom, mas também é JUSTO: a cada um de acordo
com suas obras.
P – As palavras
desse versículo 26, veladas pela imagem material e pela letra, significarão que
os Bons Espíritos não se podem acercar dos Espíritos culpados, enquanto não há,
da parte destes, arrependimento? E reciprocamente, que os Espíritos culpados
não se podem elevar às regiões em que se acham os Bons Espíritos e aproximar-se
deles?
R – Não. Os
Espíritos Superiores não entram em contato com os Espíritos Inferiores que
sofrem punição. Mas os Bons Espíritos, de menor elevação, os cercam,
conservando-se, entretanto, invisíveis. E, quanto aos Espíritos inferiores,
esses não podem elevar-se NUNCA às regiões ocupadas pelos Bons
Espíritos, SEM QUE UM ARREPENDIMENTO SICERO OS PONHA EM CONDIÇÕES DE
EXPERIMENTAREM A INFLUÊNCIA DIRETA DE SEUS PROTETORES E SEM QUE LHES SEJA
PERMITIDO ACOMPANHAR OS BONS ESPÍRITOS, COM O PROPÓSITO DE SE INSTRUIREM E
PROGREDIREM, NO CAMINHO DO BEM E DA VERDADE.
 
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