DEUS E A VIDA UNIVERSAL –
XII
P
– Disse o Espírito da Verdade que “a previdência do Senhor vela, sempre, pela
conservação de todos”. Poderia aprofundar o ensinamento e falar da paridade do
desenvolvimento em todos os reinos da Natureza?
R
– É que as espécies, incapazes de se defenderem, não são atacadas de modo positivo. Têm seus inimigos, mas entre seres tão
fracos quanto elas mesmas, nunca entre aqueles que a destruiriam completamente,
achando-as sem defesa ou meios de fugir. Cada espécie busca a alimentação que
lhe é apropriada, não procurando jamais a que seja estranha aos seus apetites.
O homem, no estado de encarnação primitiva, ou rudimentar, não tem que temer
mais inimigos do que os tem a esponja, que só é vítima dos insetos que dela se
nutrem, quando chega o têrmo da sua duração natural. Nem a carnívoros, nem a
herbívoros, nem a nenhuma das espécies de peixes ou de pássaros, serve ela de
alimento. Chegado, no seu desenvolvimento, ao período em que os carnívoros o
atacam para devora-lo, o homem já não se acha mais sem defesa e sem meios de
fugir. Dizemos os carnívoros e
não os herbívoros porque o caçador
não persegue a caça que não tenha atrativo para ele. Também afirmamos que o
homem, no estado de encarnação primitiva,
não é mais do que massa, quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que
rasteja, ou antes desliza, tendo os membros,
por assim dizer, em estado latente.
Ainda mais: “As gerações se sucedem, desenvolvendo-se. E as formas se vão
alongando, tornando-se aptas a prover as necessidades que se multiplicam”. A matéria está sujeita a um desenvolvimento regular.
Os Espíritos, quando se elevam, transpõem o grau desse desenvolvimento, sem
neles tocarem: há sempre categorias de Espíritos em correlação com os graus das
encarnações. Desde o grau de encarnação primitiva até à forma humana, não á
outra coisa senão um tipo único em germe, a se
desenvolver. Tipo único, mas que se modifica, à medida que o seu
desenvolvimento se opera, de conformidade com os meios em que se vai encontrando.
E daí podeis tirar outras conclusões, relativamente à elaboração
do Espírito nos diversos reinos da Natureza. Efetivamente, o
que se dá com a origem do tipo humano, que provém do limo diluído e fecundado, se verifica também com o principio das primeiras plantas e dos
primeiros animais. São, em começo, simples vegetações
microscópicas, que se desenvolvem, crescem e se estendem por sobre o solo, e
produzem sementes que, transportadas a diversos pontos, sofrem a influência da
terra que as recebe, das águas que as regam, dos calores que a fecundam e,
enfim, dos fluidos que a desenvolvem. Surgem, depois, os tipos animais, que
passam pelas mesmas transformações, determinados pelas mesmas
causas. Agora, é preciso compreender como e por que chega o
homem a ter a direção e a supremacia no planeta, não obstante ser o
desenvolvimento material das espécies animais, no momento da encarnação humana
primitiva, superior ao do Espírito humanizado,
sob o ponto de vista do invólucro. O homem, nessas condições,
não é um atrasado, mas um retardatário: o que há, em tal caso, é uma
retrogradação física. Nele, a inteligência tem de despertar, ao passo que nos
animais tem de se desenvolver. Fique bem claro o
seguinte: ao fundar-se um novo planeta, o princípio de inteligência, o
princípio espiritual que, em estado latente, ele encerra, tem de se elaborar,
desenvolver, individualizar e adquirir arbítrio. O princípio espiritual,
portanto, tem de passar por uma série inumerável de transformações, para chegar
a esse ponto. O Espírito que encarna, ao contrário, volta à matéria para lhe
sofrer a opressão, para se habituar a dominá-la, para aprender a se dominar,
podendo o princípio inteligente (que, então, já percorreu uma certa categoria
de estádios) ascender rapidamente, se o quiser,
da ínfima condição em que caiu até às esferas elevadas que lhe compete atingir.
Não se trata mais, aqui, de um progresso lento, insensível, mediante o qual,
por assim dizer, se cria o ser espiritual: trata-se de realizar um trabalho
raciocinado, cujos primeiros princípios já foram executados e se cuida de
aplicar. Façamos uma comparação, para maior clareza: o Espírito que se prepara
nos diversos reinos inferiores (mineral, vegetal, animal), é como a criança da
qual o germe, fecundado no seio materno, se desenvolve, nasce, se educa e chega
à adolescência. Nesse ponto, contrai uma enfermidade terrível, por efeito da
qual, na convalescença, não lembra sequer de uma letra dos seus primeiros
estudos. Não sabe mais equilibrar nas pernas o corpo cambaleante, nem ir de um
lugar a outro. Balbucia sons inarticulados e ininteligíveis. Estão mortos seus
escritores prediletos, seus talentos, suas recordações. Mas, a pouco e pouco, a
saúde lhe volta. Solícita, a mãe extremosa que lhe guia os passos, regulariza o
seu falar, mostra nos livros as palavras que ele esqueceu, e por fim o reconduz
à trilha das ciências que estudou. A inteligência se lhe desperta prontamente;
de tudo vai se lembrando e tudo vai reconhecendo. JULGA
APRENDER, QUANDO APENAS GRADUALMENTE RECORDA. E tanto mais
rápido é o progresso quanto mais a saúde se avigora. O mesmo acontece com o
Espírito que faliu:
seus progressos espirituais dependem dos cuidados que dispense à sua saúde moral. Esses cuidados lhe permitem avançar,
rapidamente, no campo da reminiscência dos progressos feitos no passado,
reminiscência que ele toma por um estudo novo, enquanto não galga a altura de
onde o passado pode, sem inconveniente, desenrolar-se aos seus olhos. Não lhe é
dado fazer progressos novos (e estes, sim, serão realmente fruto de novos
estudos) senão depois de atingir o ponto a que já chegara, quando caiu nas
trevas da encarnação humana.
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