PASSADO, PRESENTE E FUTURO
P
– Afirmou o Espírito da Verdade: “O homem dispõe do livre arbítrio e Deus
sabe que uso fará ele desse dom, porque tudo o que, para vós, constitui
passado, o presente e o futuro, está sempre – e por toda a Eternidade – patente
aos olhos do Senhor”. Como devem ser entendidas e explicadas estas
palavras?
R
– Admitis a presciência divina, ou apoucais a Inteligência Infinita nivelando-a
com as vossas? A presciência divina é uma faculdade QUE NÃO TENDES
POSSIBILIDADE ALGUMA DE ANALISAR. O livre arbítrio seria mera ficção, se
estivesse subordinado a uma ação direta. Quanto se monta qualquer
máquina, preveem-se os resultados do seu funcionamento; o que ela faz é o
que tinha de fazer. Se, porém, um operário desastrado se intromete nas
engrenagens, ou se um curioso se aproxima demasiadamente, para ver de muito
perto ou tocar numa das rodas, fatalmente é colhido, mutilado ou esmagado. O
maquinista não o impeliu, direta ou indiretamente, mas sabia que quem fizesse
o que fez o operário ou o curioso sofreria aquela consequência, tanto que,
ao ver aproximar-se o imprudente, lhe disse: – “Toma cuidado, olha o perigo!”
Neste caso, que nos serve de imperfeita comparação, onde a fatalidade relativa
à ordem a que está sujeito o movimento da máquina e às pessoas que se movem em
torno dela? Cheios de ignorância e de orgulho, pretendem os homens que Deus se
intrometa em todos os atos que praticam, em todos os fatos que lhe dizem
respeito. Cada um – pobre vermezinho! – quer que a Inteligência Suprema o
conduza pela mão, REBAIXANDO-SE AO SEU NÍVEL. Considerai com mais
elevação a grandeza do vosso Criador! Reinando sobre “todos os universos”,
iluminando todas as trevas, a influência que o Senhor exerce é uma INFLUÊNCIA
SUPERIOR, DIRIGENTE E GOVERNATIVA. Ele deixa que useis do vosso livre
arbítrio com plena liberdade, em meio às diversas influências físicas e
espirituais que vos rodeiam, e sob o império das Leis Gerais, Naturais e
Imutáveis que a sua onisciência estabeleceu, desde toda a Eternidade. Essa INFLUÊNCIA
SUPERIOR que dirige e governa, Ele a exerce pela sua ação universal,
instrumento da sua Providência, e que também se efetua no âmbito e sob o
império das suas Leis, sempre de acordo com a sua Vontade Onipotente e
Imutável. É exatamente essa INFLUÊNCIA SUPERIOR que vos atrai
continuamente para a vida do progresso, sem perturbar o exercício pleno e
independente do vosso livre arbítrio, quer este vos induza à obediência, quer
vos arraste à rebeldia. Ora, o conjunto se desdobra, desde e por toda a
Eternidade, aos olhos de Deus. Passado, presente e futuro são palavras
que as vossas limitações inventaram e que, para ele, carecem de significado:
Deus é O QUE É, de toda e para toda a Eternidade. Não entendeis que,
deixando ao homem inteira liberdade de usar das faculdades de querer, pensar e
agir, seu olhar penetrante veja, ao mesmo tempo, o que fará o homem dessa
liberdade? O maquinista, que vê o desastrado ou o curioso aproximar-se
demasiadamente da máquina, percebe de antemão os efeitos dessa imprudência; mas
de inteligência muito limitada, não pode saber de antemão qual o uso que o
homem fará do seu livre arbítrio, se consumará ou não o ato, porque não lhe
pode LER O PENSAMENTO, nem perscrutar a AÇÃO DA VONTADE. Para ele
haverá sempre solução de continuidade – um passado, um presente e um futuro na
sucessão dos atos – por mais imperceptível seja o intervalo que, a seus
olhos, os separem, no uso do livre arbítrio. Deus, porém, para quem
passado, presente e futuro nada significam; que, sem solução de continuidade,
lê o pensamento do homem e vê a ação da sua vontade, DEUS TEM SEMPRE A VISTA
A SÉRIE E AS CONSEQÜÊNCIAS DE TODAS AS COISAS, E SABE QUAL O USO QUE O HOMEM
FARÁ DO LIVRE ARBÍTRIO. A razão é muito simples: para Deus tudo é
continuamente, eternamente INSTANTÂNEO. Não há comparação possível entre
o astro luminoso, que brilha com o máximo fulgor, e a pálida centelha que se
reflete no arroio em que se extingue; entre o SER INFINITO, que irradia sobre
todos O QUE É, e as vossas inteligências fragílimas. Por isso dissemos, e agora
repetimos, que A PRESCIÊNCIA DIVINA É UMA FACULDADE QUE NÃO TENDES
POSSIBILIDADE ALGUMA DE ANALISAR.
 
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